quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Carlos Paiva, especialista em segurança, fala sobre os "Rolezinhos"

Segurança empresarial – O fenômeno “Rolezinho”

Shoppings Centers convivem com um fenômeno que compromete seus negócios o "rolezinho"   

Carlos Paiva,
         
As atividades de segurança empresarial, não devem e não podem ser vistas como um conjunto permanente de medidas para as quais basta a checagem e algumas conformidades para que se possa obter resultados positivos e obter sempre tranqüilidade. A Segurança por si só trabalha sobre o imprevisto, sobre o risco (sabe-se lá qual...), mas trabalha principalmente sobre “ameaças”, daí enfatizarmos desde muito que a segurança tem de trabalhar sobre cenários prospectivos e servir-se das técnicas de gerenciamento e controle de riscos.

O fenômeno do “rolezinho” deve estar situado na sua exata dimensão. Trata-se de uma ação promovida com o nítido propósito de protesto não violento, e que se caracteriza pela ocupação de espaços comerciais, com o fito de marcar presença de jovens em grupos nesses ambientes. É claro que a segurança insere-se nessa problemática, até porque dependendo do número de participantes, haverá o risco de saturação de equipamentos e de espaços de circulação, fatores de segurança coletiva, que devem estar monitorados, caso surja a necessidade de promover escape do ambiente. Também não se deve esquecer que tais instalações são espaços privados, de atividades econômicas legais para as quais se espera que possam ser exercidas a comando do direito da livre iniciativa e da propriedade privada.

Esse movimento a reboque de tantos outros (guerra de travesseiros nos parques, nudez em vagões do Metrô, passeios de bicicletas em nudez total etç.) fazem parte de uma realidade que se apresenta tal e qual há 50 anos, quando se levavam os pães, jornais e garrafas de leite das portas das casas, nas saídas de bailes juvenis, ou seja, muda o “script”, mas os atores são os mesmos. Assim também se deu com os “pegas” (ou rachas) de automóveis, com as pichações e com as brigas de grupos de bairros.
A segurança empresarial tem por escopo a proteção de pessoas, bens e instalações privadas, assegurando seu funcionamento e a continuidade do negócio, tendo que atuar de forma proativa e de prevenção contra riscos diretos e indiretos que possam por em risco aquilo ao que se propõe proteger. A segurança empresarial não é uma atividade épica e romântica da “salvação de tudo e de todos”.Seus limites estão convencionados em normas legais e técnicas as quais sempre terão prevalência sobre o desejo imediato de dar solução a tudo...

O fato faz-nos lembrar a ocorrência de um desses fenômenos acontecidos em um Shopping onde pudemos observar a tratativa não adequada de enfrentamento a partir da realidade onde onze (isso mesmo onze) “rolezistas militantes” (como diria o Odorico Paraguaçu...) ingressaram no Shopping e foram para o terceiro andar e lá ficaram rodando, com mais uns dez adeptos que a eles se somaram no caminho. Passearam pela metade do terceiro andar, até que um deles (um sujeito com certa de quarenta anos , usando chapéu de palha) parou frente a uma loja e começou a falar sobre o preconceito racial e suas implicações para os negros.Nessa parada deu-se um fato inusitado.Enquanto ele estava falando duas pequenas lojas fecharam as portas (não sei se por medo de furtos mesmo estando no terceiro piso...) e ai chegaram os agentes de segurança.Nada demais se não fossem em número de vinte e cinco entre os de terno e uniformizados, além de mais oito que estavam em trajes civis com a postura indefectível de “agentes secretos” !

O “rolezinho” então tinha dezoito participantes (contei-os)e um reforço que eles ganharam de trinta e três pessoas ! Lógico que as lojas passaram a querer saber o que estava acontecendo e “gaiatos” passavam falando que estavam quebrando tudo espalhando o pânico em outros andares. Para completar idosos e mães com crianças ficaram sem as escadas rolantes que foram desligadas(?),o surreal aconteceria em seguida com esse espetáculo: os “rolezinhos” foram embora e saíram do Shopping com as portas que já estavam baixadas.O mais intrigante é que no entorno do estabelecimento em via pública estavam cerca de cinqüenta policiais militares que para ali tinham acorrido antes do “rolezinho” começar já que a Inteligência Policial estava monitorando os movimentos há alguns dias.Causou-me espanto a paralisação das escadas rolantes, pois com isso dificultava-se a retirada das pessoas, além de não ser usado o sistema de som para manter informações a clientes e lojistas sobre o fato e sua real dimensão.

Isso é um indicativo de uso desproporcional de contramedidas de segurança, fruto da falta de planejamento estratégico para situações de características não convencionais, e que bastaria a leitura dos jornais e uma ação de inteligência de segurança nas redes sociais para ter um conhecimento melhor da situação de forma antecipada. Mostra ainda o mais grave que é a não participação dos lojistas no esforço da segurança, já que o fechamento de lojas acaba por gerar pânico e medo, já que em algumas o barulho das portas de aço fechando davam significado diverso do que realmente estava acontecendo. Os lojistas devem participar do planejamento de segurança e criar entre seus funcionários um conceito de que a segurança empresarial é um objetivo que cabe a todos e não apenas a alguns vigilantes.

De outra sorte, os administradores de shoppings devem estruturar seus departamentos jurídicos para ações mais imediatas que podem evitar alguns desses fatos, e que podem ser intentadas no exato momento da perturbação ao sossego que ocorre nesses incidentes.

O fenômeno do “rolezinho” não acabará rapidamente, certamente estão ganhando tempo para novas ações, situação que levou o Governo a gerar a criação de áreas de lazer para a juventude, pois se percebeu muito tarde que o futebol de várzea e as praças, foram substituído pelos shoppings.Por outro lado é preciso consolidar a marca dos Shoppings como ambientes seguros de compras e lazer, evitando-se a fuga de clientes e o pior a “sensação de insegurança”.Cabe ao Governo organizar-se para o enfrentamento a essa situação, sem que perca de vista o elevado volume de impostos e taxas, além de empregos diretos e indiretos que são propiciados pelos Shoppings em todo o País.

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